Este blog é um espaço de partilha, seja de experiências, informação ou indicações. E hoje quero iniciar uma sessão de dicas de leitura para as grávidas, puérperas e mães de crianças pequenas. Começando pelo primeiro livro que li sobre esse universo: A maternidade e o encontro com a própria sombra, da psicóloga e terapeuta de família argentina Laura Gutman (Editora Best Seller, 2016, 416 pág.).
Quem leu meu relato de parto sabe que eu não queria ser mãe e que demorou um bom tempo até eu parar de sofrer com a situação. A leitura desse livro foi uma das atitudes que me ajudou a lidar com a gestação e a me preparar para o que viria.
A autora explica que “muitos aspectos ocultos de nossa psique feminina são revelados e ativados com a chegada dos filhos”. Gutman recorre ao termo “sombra”, difundido por Carl Justav Jung, um dos pais da Psicologia, para se referir às partes desconhecidas de nossa psique e do nosso espírito.

É nessa perspectiva espiritual e mística que ela nos convida a refletir sobre a maternidade, a conexão intrínseca entre mãe e bebê, que, na verdade, são abordados como sendo um só ser. Dessa forma, “o bebê vive como se fosse dele tudo aquilo que a mãe sente e recorda, aquilo que a preocupa ou que ela rejeita”, afirma Gutman.
Era o que eu temia sobre a maternidade: que meus traumas da minha relação com minha mãe, por exemplo, que sempre foi muito rígida e até mesmo agressiva, viessem à tona em minha relação com um filho. Depois da leitura do livro, eu passei a me preocupar mais em me livrar dessa sombra, fazendo terapia com psicólogo, tentando conversar mais com minha mãe… É um processo que ainda preciso trabalhar.
Mas Laura Gutman mostra que esse momento de “erupção de nossas luzes e sombras”, ou seja, de nossos sentimentos, pode ser uma oportunidade para reformularmos ideias preconcebidas e passarmos a discutir mais sobre a criação dos filhos, educação, comunicação entre adultos e crianças.
Sem se prender à abordagem técnica da Psicologia, a autora trata a maternidade como uma “vibração energética”, o que nos dá mais liberdade para pensar o tema de forma mais universal e agregadora. Um exemplo disso é quando ela fala sobre a importância da grávida/puérpera estar em contato de outras mulheres (mãe, doula, amigas), mesmo que estas tenham outros pensamentos, outras faixas etárias, outras formas de vida. Nesse momento tão único do feminino, rola uma “afinidade essencial comum a toda mãe”, o que eu constatei quando comecei a fazer terapia em grupo quando estava grávida e, depois que Laura nasceu, quando passei a frequentar grupos de mães.
No livro, a psicoterapeuta, que durante anos coordenou espaços como os Grupos de Crianza e a Escuela de Capacitación Profesional de Crianza, na Argentina, aponta que muitas das respostas para certos “problemas” dos bebês estão, na verdade, na mãe, que pode buscar no autoconhecimento e na cura de feridas interiores o caminho para uma maternagem saudável.
Não significa que a mulher vai precisar fazer uma reflexão profunda toda vez que se encontrar numa situação desafiadora com o bebê. Gutman orienta primeiro a verificar se as necessidades básicas da criança estão atendidas (alimentação, sono, higiene).
“Concretamente, se um bebê chora muito, se não é possível acalmá-lo nem amamentando nem ninando, enfim, depois de atender às suas necessidades básicas, a pergunta deveria ser: por que sua mãe chora tanto? Se um bebê tem uma erupção, a pergunta deveria ser: por que a mãe está tão vulnerável?”
Algumas mães podem achar que ler esse livro vai aumentar seu sentimento de culpa, mas, calma, essa não é a intenção. O objetivo da autora (e acredito que de quem o lê também) é tornar a maternagem uma experiência mais leve para a mãe. Se a mãe está bem consigo mesma, seu filho também estará bem. Se a mãe está livre de outras preocupações ou sabe lidar com elas, estará livre para se conectar com o filho de maneira positiva.
É uma trajetória que não depende somente da mãe. Gutman fala da importância da rede de apoio, do papel do pai como esteio emocional da mãe, da importância de buscar ajuda. Por conta disso, a leitura de A maternidade e o encontro com a própria sombra é indicada não somente para mães, mas também para todos os profissionais de saúde, educação e comunicação que com elas lidam diretamente.